Bike em Terra

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Topo do Marão 1420 metros (mais ou menos *)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Caçadores de medronhos (uma novela por Estevão Rei)




Espero que leiam esta narração com o espírito aberto e paciência, ou não…

A manhã tinha nascido fria naquele primeiro dia de Novembro, ainda assim melhor do que a anterior, pelo menos não chovia nem fazia vento. A visita a que me obrigava naquela data aos entes desaparecidos e às suas memórias foi rápida. Os cemitérios estavam bastante desertos e não haviam cumprimentos de circunstância ou pórticos a evitar, e ainda bem, pensei. No entanto nada fazia prever os acontecimentos que brevemente iriam marcar o regresso dos enterras ao monte, por volta das 10.

Os ausentes infiéis, Cute e Chefe tinham deixado claro que não iam fazer parte daquela expedição aos confins de ‘Ass Candels’. O propósito de tão grande demanda era a busca dos medronhos. Esses frutos quase proibídos, anormalmente esquivos e vermelhos, raramente são visíveis para os comuns mortais que por aquelas bandas deambulam e, quando apanhados, são rapidamente mergulhados em líquido, para
os manter letárgicos e evitar a sua fuga.

Mas para quem se esconde assim de nós enterras, entes do monte, determinados, habituados a orientação em situações extremas de calor, frio, vento ou lama, naturalmente só podemos dizer: “Não menosprezem os nossos dois sentidos!*”.

Quando passamos por aqueles lugares ermos percebemos o quão difícil iria ser a aventura. As portas que normalmente de par em par se abriam para nós no dia do santo, com fartas mesas e alegres caras para nos receberem** estavam cerradas. Uma delas guardada por dois cães, que se mantinham quedos a salivar, repousando como dois Cérebros e desejando que um de nós perdesse o norte ou outra qualquer coisa. Mas mantivemos o sangue frio e passámos sem os olhar. De seguida atravessámos um riacho abrigado por árvores frondosas e impenetráveis silvados, para nos lançarmos na subida ao alto do monte, dito dos pneus. Aqui chegados fomos tentados por aquelas que alugam o seu corpo** mas resistimos aos seus chamamentos e a exemplo de Tântalo, não tocamos naquilo que desejávamos, embora pudéssemos, ao contrário dele no seu suplício. Penso também que não passam recibo logo, são despesas confidenciais e tributadas dessa forma.

Naqueles trilhos pontuados aqui e ali por caçadores armados até aos dentes****, as paisagens eram em tons castanhos, despidas de vida pois haviam-na entregue a um mar de chamas que no Verão por ali tinha passado. E foi num destes trilhos que o Coutinho tombou maravilhado, já depois da segunda subida, mas também perto de uns cães com dono, que procurava uma raposa com a ajuda de um pau, pronto a abrir uma cabeça incauta e descoberta, só para saber se era de ar e vento. Ora isso é coisa que nós (enterras) não temos, muito menos o Coutinho, que trazia mais duas ou três novidades, e claro o capacete*****. Armámos barraca logo ali e restaurámos forças para a nova subida que nos escondia o Sol e a descida em direcção a Lemende. O Tu o’Six trazia num dos bolsos parte do recheio de duas mesas de abastecimento de outras tantas maratonas. Acho que ele às vezes exagera, pois podia trazer mais alguma coisa nos outros dois bolsos, mas ele é que sabe…

Como o que sobe tem que descer lá fomos a cinquenta e tais chegando cada vez mais perto dos medronhos. Já os cheirava à distância, imaginando-os maduros e enrubescidos pelo Sol, sentindo a sua textura agreste e consistência firme e claro, sem aditivos! Por detrás de um manto translúcido de verdes, deixavam-se perceber nas suas formas redondas sedutoras com copas naturais, o que hoje é raro, e agitavam-se suavemente cada vez que tocados pelas mãos de Éolo, ou pelas nossas...

Até os comemos!

*Já tivemos mais. Excluo o apurado sentido de orientação do Chefe.
**a troco de dinheiro…
****nunca percebi o alcance desta figura, mas enfim… nunca percebi muitas coisas…
*****que acho (achismo) não era novidade… mas não tenho certeza…

6 comentários:

  1. É o fim do mundo !
    Artigo no seguimento dos dois comentarios que deixei no artigo do Jorgex.
    Quem semeia ventos...

    Pura genialidade de quem escreve melhor do que sobe*.

    Vou transcrever aqui dois paragrafos do livro que acabei de ler. Não é um retrato fiel mas dá uma ideia **.
    Ora portanto, in A Cabana de Wm.Paul Young

    "Neste mundo de faladores, Mack é um pensador e um homem de acção. Não diz muita coisa, a menos que alguém lhe pergunte directamente, algo que a maioria das pessoas se habituou a não fazer. Quando fala, ficamos com a sensação de estarmos perante uma espécie de extraterrestre que vê o panorama das ideias e das experiências humanas de modo diferente de todas as pessoas.

    O que acontece é que as coisas que ele diz causam um certo desconforto num mundo onde a maioria das pessoas prefere escutar o que já está acostumada a ouvir. Quem o conhece, geralmente, gosta bastante dele, desde que ele mantenha guardados os seus pensamentos. E, quando fala, não quer dizer que as pessoas deixem de gostar dele - o que acontece é que acabam por não ficar muito satisfeitas consigo próprias."

    Admiro este enterra escritor e como ele costuma dizer acerca dos outros :
    "Não há"***

    Parabéns pelo artigo. Continua.

    * Vocês sabem com ele sobe, todos o vemos
    ** ou não, mas sim, talvez
    *** mesmo

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  2. Yes! Jorgex, e mais nada...

    Quanto à sugestão do Tu o'Six despertou-me bastante curiosidade, que é algo normal em mim (dado ser morcão zola) e nas crianças (como eu)...

    E agora para algo completamente diferente, a ida à Senhora da Graça a partir de Amarante está para quando?

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  3. What ? Information : Na parte de cima !

    Senhora da Graça, por mim, dia 22 ou dia 29.

    MC ? Está-se a juntar aos ausentes infieis ?

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  4. Depois disto que li, pra quê ir estragar a minha gold one parece um filme que não esta terminado.
    Pois é, e o resto da história, pois pois não há porquê?


    Os efeitos do medronho faz umas coisas esquesitas, com por exemplo: esquecer como foi a volta para casa.


    1 medronho tra lá lá
    2 medronhos tra lá lá
    3 medronhos tra lá lá
    4 medroonnhhhoooos traaa lá lllll
    onde é que eu ia?

    Espero que tenham encontrado o caminho de volta!!!

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  5. Sr. da Graça lá estou eu!
    Agora vou para todó lado(acho eu)
    quero me vingar, daquela subida não me vencerá.

    Tu o` six, em vez de andares a ler essas pornografias e depois teres a lata de esqrever, pega no CANHaõ e alá que é moleiro!

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  6. Não sou eu que não ando*... infiel !

    Um dia hás-de vir cá, ó menino, que ele vai-te bazar tudo e depois beber um cuty-sark com castanhas !

    Retificação :
    Estou disponivel para SDG dias 20 e 27 e por ai a diante. É marcar...rapidinho enquanto estou bem disposto*. Ninguém notou o erro à excepção do nosso MC ;)

    Jorgex : Contamos contigo para ir um dia destes à SDG ! Fazemos uma vaquinha se for preciso pagar os transportes.

    * e depois até ando às escondidas
    ** deitadinho no sofá

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