Se a minha professora primária me dissesse que um dia, em vez de decorar o nome das serras, os rios e os caminhos de ferro deste país, eu iria passear de bicicleta sobre elas, atravessando-os e pedalando neles, dir-lhe-ia que o desaparecimento de Francisco Sá Carneiro estava a perturbar-lhe o espírito. Mas de facto tenho tido a oportunidade de o fazer, no espaço de duas semanas na linha do Corgo e do Tâmega. As serras, essas, são difíceis de inumerar, se calhar também não importa muito, o que fica são as memórias, e mesmo que o caminho seja o mesmo nunca são iguais, nem a companhia nem a forma do passeio ou as sensações e, se calhar, ela seria uma bi-dente...
Este sábado o destino foi o Monte Farinha, em Modim de Basto, seguindo o caminho rasgado na margem direita do Tâmega para servir a linha de comboio que ligava Livração a Arco de Baúlhe que foi encerrada em 2008 e transformada numa eco-pista. O trilhos de aço e travessas foram substituídos por um piso em muito bom estado, mas bastante duro, pelo menos para quem pretende praticar aterragens depois de voos planados, ou travagens a uma só mão. Já sobre a meteriologia não podíamos ter melhores condições: pouco ou nenhum vento, temperaturas bem acima dos 30 e pouca ou nenhuma humidade. Perfeito!
Saímos da Estação de Amarante muito cedo, éramos nove* e, num instante, estávamos a chegar à estacão de Mondim, a comer uma maçã no sítio do costume e a ouvir a 'mula' do Max. Depois da boa disposição e dum café começou o empeno na serra mas com um bom ritmo chegámos todos lá acima... Todos menos o do costume... Bela vista sobre as paisagens em redor e desta vez sem sombra de incêndios. Parece que também estão em crise... Toca a todos pelos vistos, neste caso ainda bem!
A descida e caminho inverso foi um pouco mais duro, fazia mesmo muito calor mas o repasto à gaulesa numa quelha em Amararante valeu a pena.
PS: Dia 2 do passeio anterior
Etapa 2 - Antenas do Marão - Vila Real
Depois de reparar um ou dois furos começámos a descida da vertente Este do Marão em direcção a Soutelo por trilho de saibro e pedra com inclinações negativas rondando os 15%. Normalmente subimos a pulso mas desta feita foi exactamente o contrário: 8 minutos de descida com dores nas mãos e braços. Foi difícil mas um bom desafio e valeu por fazer-nos conhecer um caminho diferente, capaz de ser usado inversamente quando as nossas bikes trouxerem um motor ou dois... Depois de abastecermos de água numa fonte de 1990 descemos para depois subir até ao pé da saída do túnel do Marão, aquela obra enorme e simbólica da capacidade (intrínseca e inata) que temos de empancar quando menos se espera...
Chegámos ao tunel sobre o IP que liga à N15 e descemos dali ao repasto na Toca do Lobo, um restaurante frequentado por nobres ilustres. A reportar apenas um momento de desorientação minha quando em vez de seguir o musgo, que funciona sempre, sugeri seguirmos os postes de electricidade... Asneira, mas eu chamo-me Morcão... Notem que quando passarem junto a este restaurante devem falar baixo, principalmente se forem asneiras...