Há alturas em que nos
reunimos para pedalar*, e outras em que o único propósito é ouvir as histórias,
que não são histórias**, contadas pelo nosso Chefe. A semana passada foi para
ouvir, até porque só vieram 4 enterras, estava a chover, convidava a uma fogueira e
a malta estava cansada como o costume. Do percurso nem sequer falo, já nem me lembro, apenas
que chegados a um parque de merendas, assentamos arraiais a lanchar em redor do
Chefe.
Com ar sério começou: - Há muitos, muitos anos
havia uma terra ali prós lados de Leça, que começava com uma placa que avisava:
“ESTÃO A ENTRAR NO FAR OU ÉS-TE!” e que terminava com outra que voltava a
avisar: “ESTÃO A SAIR DO FAR OU ÉS-TE!”. No fundo, esta terra era uma rua –
dizia – tinha uns quantos cafés de cada lado, mesmo tipo tascas, que eram
visitados frequentemente por uma mulher que tocava música. Para afinar
precisava passar em todas as capelas e tomar um dedal cheio de líquidos,
ziguezagueando entre elas. Quando chegava ao fim da rua estava fina e pronta a
tocar, e que bem que ela tocava – lembrou o Chefe – tocava mesmo bem, de ouvido
e não só…
Nessa rua havia também
um mágico, e não era um mágico normal, era um que escondia coisas como qualquer
mágico sim mas, para as fazer aparecer, era à marretada. Tinha também um prazer
especial em esconder plantas, e se possível de folhas palmatinervadas e depois,
gostava de as queimar aspirando os vapores.
Certo noite, estava ele
num desses antros, quando entraram uns gajos de azul e de chapéu e vai daí ele pega
num saquinho de plantas que trazia no bolso e zás, fá-lo desaparecer na parede
do WC! Magia! Mas como os gajos não desandavam teve que concluir o truque no dia
seguinte. Azar o dele… Durante a manhã outros gajos com azulejos, coisas de trolha
e sem sono, revestiram a parede. Bonito serviço, disse ele com ar de desafio*****,
este vai ser o meu número mais difícil! E PUM!
- Ei! O que foi isto? –
Perguntou o dono.
- Isto o quê? – Perguntou o irmão do mágico,
também fã de plantas…
- Parece-me ouv.. PUM! Isto, carago! Não ouviste?
- Irra, já está a ouvir coisas?! Que idade tem?
(PUM! PUM!)
- PQP! Se isto não vem daqui de dentro… e vai em
direcção do quarto de banho. Cruza-se com o mágico e pergunta-lhe se não tinha
ouvido nada e claro que a resposta foi negativa. Entra na casa de banho e …
AAAAAAAAIIIIIIIIII, O QUE É QUE É ISTO CARAGO?! QUEM FOI O F… Bom, aquela
parede fazia lembrar um bunker depois de um ataque de artilharia pesada. De
facto foi o aparecimento mais difícil para o mágico! E nunca mais endireitou, a
parede…
A esta altura o Chefe já ia na terceira barrita
quando começou a história do Pêpêdê. Esse sim estava muito à frente, ele
inventou a forma mais rápida de mudança de transporte, em andamento. Uma vez ia
ele de gás na sua Casal de duas a tentar descobrir os horários dos autocarros
quando de repente lhe sai um ao caminho, adiantado claro. Não teve mais,
apontou à porta e zás, entrou de cabeça e recebeu um módulo, não fosse ele
desaparecer sem pagar. Tirou logo bilhete e foi o precursor do andante, porque
entrou em andamento.
Ele e o outro que
sacava um cavalinho e encaixava a roda da frente na traseira do autocarro e
andava assim de transporte público. Diz o Chefe muito calmamente e com
admiração – “Nunca o vi cair!”
Depois havia o Bob Marley que tinha uma carrinha
cheia de fumos lá dentro e chateava-se por tudo e por nada. Um dia à noite ia
com a malta e alguma coisa o mordeu pelo que disse ao gajo que na altura
conduzia: - “Abranda para os 30!” e ele abrandou. Então o BM, nascido em King
Stones (Jamaica), abriu a porta de correr e ao pontapé fez descer os outros
passageiros que iam a bordo. Inovação, diz o Chefe! Rápido e eficaz! Para quê
as mangas nos aviões, assim é rápido e seguro, se não ultrapassar os 30?
Passada uma semana voltamos a encontrar desta vez
em São Vicente de Queimadela, para tirar umas fotos e esperar pelo capacete do
Gil. O Chefe manteve o mesmo pedal para tudo menos para a bicicleta,
discutiu-se imenso a altura das redes de Futvólei*** de praia, não sei bem
porquê, mas são sempre mais altas do que os jogadores. Segundo o Chefe porque
eles têm sempre que saltar para cabecear a bola. O Coutinho voltou e trouxe a
máquina e a minha conta. Eu continuo com a escoliose, acho que não me safo, e o
Gil continua a precisar de férias ao sol e a fazer asneiras. Desta vez teve que
ir ao campo buscar o capacete do Chefe e a casa buscar o dele… Irra!
Hã! Ia-me esquecendo, afinal eu tinha razão, a
Cristina está viva: o Chefe buzina e o rádio liga, mas os mecânicos já sabiam e
têm uma promoção para resolver isto… Sobre o passeio… não teve história porque
estava a chover, pouco…
*Cada vez mais raras…
**Aconteceram mesmo!
****O Gil é que sabe
disto
*****Tipo Chefe.
******Encontrei alguns asteriscos!